quinta-feira, 10 de abril de 2008

Luto

Ela sabe que vai entrar em luto.
Aliás, ela sente que já está de luto há dois anos.
Um luto terrível, pois o amor dela foi ferido de morte mas ainda estava vivo.
Um luto terrível, pois continuou a tentar reanimar um morto.
Mas, mesmo assim, vai entrar (ou continuar) em luto.

E ela vai sofrer, porque vai perceber, enfim,
que de facto, o amor morreu já há muito tempo.
E ela vai ter que enterrar alguém que
ainda está vivo.
Como é possível, meu Deus,
fazer isto:
Enterrar alguém vivo?
Alguém que amou
loucamente
durante
VINTE anos...
Hoje, está a ser um dia mau para ela.
Ela sabe que vai sofrer, mas mesmo assim
ela vai para a frente, já não volta atrás.
Porque ela sabe que se voltar atrás
ainda vai sofrer mais...

Mais uma vez, a palavra de médico:

Um divórcio (...) assume o significado de uma morte em vida.
A mulher sente a perda do «ente» gostado,
mas está impedida de fazer um luto adequado,
pois este «morreu» mas continua vivo.
É um luto enlouquecedor e sempre inacabado.
Nesta fase,
surgem sentimentos de depressão,
desvalo­rização,
baixa de auto-estima,
angústia intensa e
labilidade afectiva,
muitas vezes na origem de transtornos clínicos.

Ora aqui está: ela sofreu isto tudo nestes últimos anos, em particular nos últimos dois!, assim, não deve piorar... ela não consegue imaginar-se pior...

O risco de suicídio é três vezes superior,
com aumento do consumo de tabaco,
bebidas alcoólicas, drogas e condutas de risco.

Pensar em morrer, ela pensou.
Tabaco, não lhe parece, pois deixou de fumar no dia 23 de Julho de 2003 e, orgulhosamente, ainda não tocou em nenhum cigarro desde então.
Bebidas alcoólicas e drogas também não lhe parece.
Condutas de risco.... hmmm.... a ela parece-lhe melhor andar de comboio, porque da última vez que foi trabalhar de mota, assustou-se com ela própria, ao fazer ultrapassagens, que habitualmente não fazia!!!

As consequências objectivas de um divórcio para a mulher
podem passar pela diminuição do poder de compra,
da saúde, das expectativas positivas de vida.

Ora, mais uma análise da situação dela:
ele contribuía com algum dinheiro para a família, mas era
ela que governava a casa.
Relativamente à saúde, ela pensa que vai poupar dinheiro,
ao resolver este problema,
em medicamentos ansiolíticos e antidepressivos
e em consultas psiquiátricas
em que anda mergulhada há dois anos...
Expectativas positivas da vida... aí sim: ela não tem,
pelo menos, no que diz respeito ao "amor"!

Da qualidade e brevidade com que a mulher consiga superar a crise do divórcio
resulta o bem-estar e saúde mental dos filhos que,
habitualmente, ficam à sua guarda.

Ora aqui está uma coisa FUNDAMENTAL
que ela também teve em conta ao tomar
esta decisão tão difícil:
a saúde e bem-estar dos seus filhos!
Que exemplo estaria a dar, se continuasse a
sentir-se miserável?
Assim, ela espera, do fundo do coração,
estar a dar um exemplo
de
LUTA
pela própria dignidade
pelo amor-próprio!

Ela espera que um dia, os filhos a entendam e perdoem.

1 comentário:

Karmen disse...

Pelo que sei, eles não só ja te perdoaram, como estão do teu lado.
Não os desiludas.
Vai em frente.
Agarra-te a isso, á responsebilidade de dar o exemplo de luta, aos miudos.
kiss