sábado, 3 de maio de 2008

Flashback 1

Ao que parece fazer ela tem que fazer o luto...

Num velório, a viúva relembra com dor os momentos bem passados.

Neste luto, ela relembra com dor os momentos que a magoaram.

Ao olhar para trás, há alguns flashbacks que teimam em aparecer.

Eis uns dos primeiros momentos que iniciaram a bola de neve que terminou agora na dissolução do instituido pela lei, mas que já estava morto, talvez, há dois anos, ou mais:

21 de Dezembro de 2005

Final do 1º período.
Balanço estranho.
Escola estranha.
Miúdos estranhos.
Ando diferente, já não me reconheço. Nada tranquila!
Sou um vulcão de emoções, umas negativas, outras positivas. Pareço uma montanha russa.

1º facto:
Tudo começou com um divórcio que me abalou: M. assinou o divórcio, porque o marido traiu-a durante CINCO (!) anos com a mesma amante: a vida dupla a que isso obriga, as mentiras constantes, cinco anos. Imperdoável. Como é possível conseguir este feito e a mulher não perceber? Como?
Toda esta história expôs as minhas fragilidades interiores, todos os medos de ser traída acordaram, passei a ser povoada de fantasmas.

2º facto:
No dia 4 de Outubro, R. enviou-me, por engano, um sms: um convite seu para lanchar. O que seria de todo impossível para mim. Perante a situação, ele negou que o sms seria para outra pessoa e “jurou” que era para mim. À noite, depois de muita insistência da minha parte, ele diz que era para S. Justificação aceitável. Mas, porquê tanta recusa em dizê-lo? Seria mesmo para ela?

3º facto:
Há uns dias, não sei precisar a data, encontrei um cabelo comprido na nossa cama, do lado de R. ao nível das pernas. OK OK OK Pode haver milhões de explicações. Ele mandou-me a um psiquiatra!

4º facto:
Domingo, dia 11 de Dezembro, depois de QUATRO (!) noites sem dormir em casa, devido a vários concertos no Norte, ele vinha a casa almoçar, porque a banda tinha que entregar a carrinha às 14 em Lx e ele vinha de boleia com eles. Mas, às 17horas, ainda não tinha chegado e tinha o telemóvel desligado (ou sem bateria) e NÃO AVISOU nada! Fui para Cbr, a fim de verificar se o carro dele ainda estava na estação, porque pensei o pior: a carrinha tinha tido um acidente e ele estava ou morto ou bastante doente para não poder avisar a família que algo se tinha passado.
Afinal, parece que a carrinha avariou e eles estiveram muito tempo à espera de socorro.
Mas, nesta história toda, há coisas que não batem certo:
A hora de saída de Braga,
a hora da avaria,
a impossibilidade de telefonar de um tmv,
a não paragem numa estação de serviço,
mas depois já tinha parado para comer qualquer coisa e não havia telefones públicos de moedas ?!!!
Como é possível não avisar perante um atraso de 6 horas?

5º facto:
Na 2ª, dia 12, ele lanchou com uma colega, cuja identidade esteve envolta de secretismo. Admitiu depois que era S. Mais uma vez a dúvida persiste: porque não o disse logo?

6º facto:
Dia 13, depois de um jantar de “reconciliação”, ele disse que EU tinha que ENTENDER que ele PRECISAVA de conhecer novas mulheres, porque era “virgenzíssimo” quando me conheceu. Eu não necessito de conhecer novos homens, porque tenho o melhor...

7º facto:
Toda a semana tentei conversar e todas as conversas deram para o torto, acabando por discutirmos.

Pergunta: Ele ama-me ainda? Ainda lhe sou importante?

Estou num turbilhão.
Eu gostava mesmo que ele me dissesse que está casado comigo,
não por não ter espaço para os discos,
não pelos miúdos,
mas por MIM.
Ainda por MIM!
Que eu ainda valho a pena.

O que mudou em mim?
Facto: mudei de escola;
Facto: tive um início assustador, pois foi a 1ª vez que tive 11º ano;
Facto: perdi a companhia e a conversa de duas amigas, C. e P. e a de D. embora a conversa com ele fosse apenas de motas;
Facto
: deixei de andar de comboio e isto deve ser o que mais me afectou. Tenho que conduzir, não tenho ninguém com quem conversar e não posso dormir. Solidão. Este ano sofro de solidão!!
Tenho 50 minutos matinais e vespertinos para alimentar fantasmas;
Facto: estou em dúvidas a nível profissional, os meus alunos não me respeitam;
Facto: não estou feliz!

EU estou SÓ! É isso: Solidão.
Estou só na escola;
Estou só na sala de aula, absolutamente só;
Estou só na viagem! Só no carro ou na mota!
Estou só em casa! Só!
Durmo só!
Sinto-me só! Solidão absoluta!
Solidão rodeada de uma multidão. Mesmo quando R. está, eu estou só!
Eu sou SÓ! Solidão!!!!!!!!!

O mundo parece-me vazio, o meu coração está vazio, a minha alma está vazia!
No entanto, ainda tenho pais vivos e saudáveis.
Os meus filhos são saudáveis.
Tenho trabalho.
Tenho casa.
Tenho comida.
Posso comprar livros, ir ao cinema, jantar fora. Estou a ser egoísta!

Eu sei que R. não pode sofrer com a minha insegurança, não é ele o culpado de a minha colega ter sido traída.
Não é ele o culpado da minha vida profissional não estar nada bem…
Mas, parece-me que não sou importante para ele.
Eu não me sinto amada. Não me sinto especial. Todas as mulheres são melhores que eu, todas são enigmáticas e lindas e interessantes. Ele sabe tudo de mim. Eu não sei nada dele. Eu estou feia quando ele chega a casa… já trabalhei, já fiz o jantar e… merda… que vida!
Toda a minha vida material está assegurada.
Toda a minha vida emocional está uma confusão!

Vou? Fico? Mudo? Mantenho?

Vinte anos…

Filhos…

Não consigo pensar…

Eu tenho que deixar R. voar! Mas deixar voar mesmo!
Mas, e se depois ele voa e não volta?
Se calhar é mesmo melhor fazer isso, porque isto assim não vale a pena.
Estar casada assim,… continuar tudo na mesma é uma merda, não vale a pena lutar!
Estou cansada de lutar, cansada, muito cansada!

Vou desistir: Ele que voe! Que faço eu, então? Nada?
Como vou conseguir não fazer perguntas?
Como vou conseguir saber que ele gosta de estar (a conversar, por enquanto!) com mulheres e eu em casa?
Como vou conseguir? Como?
Assim, não vale a pena! Assim não!

Eu quero estar com alguém que queira estar comigo e não com alguém que seja obrigado a estar comigo. E é isso que eu queria que ele decidisse esta semana. É isso que eu queria ouvir. Mas, se calhar, ele também tem dúvidas.
Assim, o mais inteligente será: deixar voar!
Mas,

Deixar voar e eu fora?
ou
quê??